Em 2022, vários artistas internacionais continuaram a trabalhar lado a lado com os artesãos da Viúva Lamego nos históricos “casulos”.
Centenária, preservando o legado, e com olhar no futuro, um dos pilares da Viúva Lamego são as constantes e relevantes colaborações com artistas e arquitetos, de tal forma que a lista de projetos em desenvolvimento é bastante extensa. O passa-palavra no mundo artístico e entre arquitetos é reflexo de como a casa histórica – uma referência no universo do azulejo – há muito viaja além-fronteiras, encontrando em nomes sonantes das artes e do design os seus embaixadores, algo diferenciador e que distingue a Viúva Lamego das demais fábricas.
Desde 1930 que a Viúva Lamego promove a realização de residências artísticas, também conhecidas como “casulos”, que puseram nomes conhecidos do panorama artístico português e internacional a trabalhar lado a lado com os artesãos da fábrica que também é um atelier industrial. Alves de Sá, Jorge Barradas, Querubim Lapa e Maria Keil já antes marcaram o percurso da histórica casa que desde 1849, ano de criação, reinventa-se a mando da arte.
Atualmente, a Viúva Lamego conta com quatro residências permanentes, das quais fazem parte nomes sonantes como Mestre Manuel Cargaleiro, que em 2022 celebrou 95 anos de vida, Maria Emília Araújo, Hervé di Rosa e Bela Silva. Já em regime de residência temporária, vários projetos com cunho internacional continuaram a ser desenvolvidos em 2022, mais de 170 anos após o nascimento da incontornável Viúva Lamego.
No ano que passou, a ceramista e ilustradora francesa Henriette Arcelin foi desafiada por Felipa Almeida (que faz curadoria de artesanato e promove várias colaborações com artistas) para participar no projeto “Ria Formosa”, cujas peças em cerâmica, manufaturadas na fábrica-atelier, estiveram expostas na Lisbon by Design, no Palácio Gomes Freire, no final de maio. Já o trabalho desenvolvido na Viúva Lamego por Hopare, artista franco-português, estreou em junho em dois espaços distintos: na Herdade do Perú, um palacete do século XVIII na Serra da Arrábida, e também no Pátio da Galé, no coração da capital. As peças por ele assinadas distribuem-se entre pinturas a óleo sobre tela de linho e ainda criações em cerâmica com a Viúva Lamego.
Noe Duchaufour-Lawrence, conhecido designer francês e fundador da Made In Situ, está também a desenvolver um projeto em estreita colaboração com a casa centenária, bem como o mexicano Alonso Batista, que desde o final de 2021 tem assinado uma variedade de trabalhos de pintura em cerâmica. Embora a morada permanente seja Berlim, Isa Melsheimer, artista alemã, esteve a trabalhar em regime de residência artística na Viúva Lamego depois de ter sido desafiada por Luísa Jacinto: a exposição “É o cenário que se move” esteve exposta na Brotéria, em Lisboa.
Longe de ficar parada no tempo, a fábrica-atelier centenária, onde a inovação convive com processos de produção artesanais, num savoir-faire único, tem tido um papel preponderante nos trabalhos desenvolvidos por grandes nomes da arquitetura, do design e das artes plásticas, com projetos recentes que ajudam a propagar o seu legado.
É exemplo a criação da artista Deb Chaney que trabalhou em estreita colaboração com a fábrica portuguesa para criar quatro murais no âmbito de um projeto imobiliário para o Crest Adera Development Corporation, a Norte de Vancouver, no Canadá. A Viúva Lamego ajudou a traduzir a arte abstrata de Chaney em azulejos, demostrando o poder positivo da arte e da criatividade, contribuindo para um maior sentido de comunidade e bem-estar dos moradores e dos vizinhos, e que o público em geral pode também desfrutar.
Vhils entra igualmente no radar artístico da Viúva Lamego dado o trabalho exposto em abril na Delimbo Gallery, em Sevilha. “Fractal” foi a primeira exposição a solo do artista Alexandre Farto em Espanha e contou com uma série de painéis de azulejos que pretenderam retratar o património cultural partilhado entre os países vizinhos e ainda o legado da azulejaria lisboeta.
Também 2021 contou com outras colaborações de peso. É o caso de Jon One, que assinou o mural “Back To Life” em colaboração com a Underdogs Gallery, mas também do chinês Ai Weiwei, mundialmente reconhecido como um dos mais influentes, interventivos e criativos nomes da arte contemporânea, e cujo comissionamento resultou na obra “Odyssey”. O painel, com 1800 azulejos pintados à mão por artesãos da Viúva Lamego, esteve em exibição na Cordoaria Nacional em Lisboa até novembro último no âmbito da exposição “Ai Weiwei – Rapture”.